Entre a Vibe

Publicado em 17/07/2025

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Anos atrás, ouvi uma entrevista sobre festivais de música. O entrevistado dizia que muita gente não vai pelos artistas, mas pela vibe. Isso ficou na minha cabeça. Será que hoje isso se intensificou? Será que estamos mais presentes pela estética do evento — e pelas redes sociais — do que pela música em si?

É um sentimento estranho. De vazio. De falsidade. E não digo isso em tom nostálgico. O próprio entrevistado apontava que isso já acontecia antes. Mas parece que hoje a coisa se tornou mais evidente, mais performática. Como se a música tivesse virado trilha sonora de fundo para uma grande encenação coletiva — e não o centro da experiência.

Às vezes, penso que estar num festival virou algo parecido com tocar numa churrascaria. A banda está lá, fazendo o que ama, abrindo suas verdades em forma de som, enquanto o público está mais preocupado com o próximo pedaço de carne. Estão ouvindo, sim — mas ouvindo como se ouve o ruído do ambiente, como se a música estivesse ali só para preencher o ar.

Pior ainda é pensar em quem realmente queria estar ali para ouvir, mas não consegue: por causa do preço dos ingressos, da distância, da falta de acesso. Enquanto isso, muitos que conseguem entrar mal olham para o palco. Estão lá, mas não estão.

E é aí que me vem outra imagem: a da “fachada da fachada”. Porque, às vezes, o que se apresenta como sincero — aquele vídeo emocionado, aquela legenda sobre “energia única” — também é só mais uma camada. A gente olha e sente que tem algo vazio ali. Como se a expressão tivesse virado mais um filtro.

Esse distanciamento me pega, especialmente quando penso no que a música significa pra mim. Gosto de prestar atenção. Escutar o conjunto e depois cada instrumento separado. E ver isso sendo substituído por aplausos automáticos ou por um público que só levanta o copo pro alto me causa desconforto. É como tentar compartilhar algo íntimo com alguém que só responde olhando o celular